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NOV 13 2019

Vamos fazer da sustentabilidade uma norma para as cidades?

Ubiwhere

Com mais de metade da população mundial a viver atualmente em cidades, os desafios habitacionais, económicos e sociais têm aumentado exponencialmente, tendo os municípios vindo a sofrer uma crescente pressão para implementar medidas que os ajudem a atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Afinal de contas, quando avaliadas a uma escala global, as cidades são atualmente responsáveis por 70% das emissões de poluentes atmosféricos e por 60 a 80% do consumo de energia, apesar de ocuparem “apenas” 3% do território do planeta. A ONU tem, como um dos seus principais objetivos, tornar as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Para isso, pretende que, até 2030, por exemplo, seja melhorada a segurança rodoviária e disponibilizados sistemas de transporte acessíveis, seguros, sustentáveis e com um preço acessível para todos, através da expansão da rede de transportes públicos, enquanto, em paralelo, seja reduzido o impacto ambiental negativo, prestando especial atenção à qualidade do ar e gestão de resíduos municipais, entre outras metas.

Não é de estranhar, portanto, que se veja, por parte das cidades, uma aposta crescente em infraestrutura e soluções tecnológicas cujos objetivos sejam recolher e digitalizar informação proveniente do meio urbano, através de diferentes sensores, plataformas e aplicações. Estas têm vindo a ser instaladas para auxiliar a resolução destes desafios, tentando, por um lado, otimizar tarefas e processos e, por outro, reduzir tanto o consumo de recursos como o impacto ambiental destes serviços. Bastará folhear algumas edições da revista Smart Cities para conhecer diversos casos de uso implementados em Portugal: monitorização de estacionamento e gestão de trânsito, otimização dos percursos de recolha de resíduos, sistemas de recompensa ao cidadão por comportamentos sustentáveis, monitorização e partilha de informação sobre qualidade do ar, ruído ou condições meteorológicas, assim como o investimento em ciclovias e sistemas de partilha de bicicletas. Estes são apenas alguns dos exemplos de aplicações que as nossas cidades inteligentes têm vindo a implementar com sucesso.

Contudo, além de serem tipicamente orientadas ao domínio de aplicação (mobilidade, ambiente, energia), estas soluções são muitas vezes proprietárias, criando, assim, uma espécie de “silos” verticais que não permite a interoperabilidade com outros sistemas, e acabando por limitar o acesso à informação para uma tomada de decisões de forma empírica.

Sendo a cidade um ecossistema orgânico que envolve diversas entidades com diferentes necessidades, é essencial que exista uma abordagem integrada na qual estes sistemas inteligentes consigam comunicar entre si e permitam o cruzamento da informação, para se conseguir obter uma perspetiva holística do impacto das decisões tomadas (por exemplo, alertando cidadãos, condutores e operadores de logística de constrangimentos em vias onde estejam planeadas obras, correlacionando o trânsito e o impacto ambiental causados pelas mesmas, ou até condicionar a ativação da irrigação ou da iluminação pública a determinadas condições meteorológicas ou a eventos organizados em zonas públicas). É precisamente aqui que a normalização consegue fazer a diferença, através de especificações abertas para serviços e processos que facilitam a partilha de informação entre qualquer sistema (quebrando os tais silos), permitindo, assim, o cálculo de indicadores de sustentabilidade e fornecendo recomendações ou orientações de implementação de tecnologia para cidades inteligentes.

Tipicamente orientadas por entidades associadas à indústria e à investigação (o que tem dado bons resultados em setores como as telecomunicações e a infraestrutura), as iniciativas de normalização procuram recomendar às cidades especificações abertas que possam trazer as capacidades de replicabilidade e interoperabilidade aos serviços implementados. O grupo europeu ETSI (European Telecommunications Standards Institute), formado originalmente pela Comissão Europeia para definir normas para o mercado das telecomunicações, tem vindo cada vez mais a focar-se nas problemáticas das cidades.

Por um lado, tem promovido uma especificação aberta para encontrar e trocar informação entre sistemas (bases de dados, aplicações móveis ou redes de sensores), associando contexto à mesma e permitindo a definição de forma não-ambígua da informação que lhes é relevante, o seu formato e significado, enquanto, por outro, procura juntar contributos de projetos financiados pela União Europeia e de outras iniciativas europeias e internacionais de normalização, mas também das próprias cidades, de modo a conseguir aconselhar da melhor forma sobre as estratégias e standards relevantes para os desafios enfrentados pelos municípios. Um exemplo concreto é o da Open and Agile Smart Cities (OASC), uma rede internacional de cidades, sem fins lucrativos, que adotou Mecanismos de Interoperabilidade Mínimos (MIM) com base em standards do ETSI, mas não só. Os MIM consistem, portanto, em interfaces abertas para partilha de informação em tempo real com contexto, um conjunto de modelos de dados para harmonização de informação e uma plataforma que atua como um mercado digital de dados e serviços, que estão já a ser adotados por algumas cidades pertencentes a esta rede, como são os casos do Porto, Eindhoven, Santander e Carouge. Ao seguir por este caminho, as cidades conseguem garantir que não ficam presas a um fornecedor específico, que a tecnologia que estão a adotar já foi validada anteriormente noutras regiões, e que estarão a facilitar tanto o desenvolvimento e integração de soluções no seu ecossistema (a tal replicabilidade), assim como a análise de dados por algoritmos de inteligência artificial para, por exemplo, calcular dinamicamente os indicadores de qualidade de vida e sustentabilidade, especificados pela Organização Internacional de Normalização (ISO), que servem para avaliar o cumprimento dos ODS por parte das cidades.

Apesar destas vantagens que a normalização pode trazer para a tecnologia e o negócio nas cidades, não é de estranhar que ainda seja um desafio encontrar, conhecer ou envolver pessoas no processo de adoção deste tipo de estratégias, seja pela fragmentação das muitas atividades existentes, seja por não conseguirem tempo para investigar estas questões, com tantos desafios atualmente nas suas agendas. Iniciativas como a OASC ou a European Innovation Partnership on Smart Cities and Communities, entre outras, têm conseguido reduzir o gap entre as diferentes partes interessadas, juntando a oferta e a procura, para criar notoriedade para as atividades europeias e internacionais de normalização e levantar as necessidades das cidades para validação. No entanto, há ainda trabalho a fazer, especialmente vendo que as necessidades dos cidadãos em termos de usabilidade, acessibilidade ou segurança dos seus dados, por exemplo, não são suficientemente tidas em conta no processo. Com esse intuito, encontra-se em elaboração um relatório técnico para identificar junto dos cidadãos quais são estas necessidades, correlacioná-las com as atividades de normalização e trazer recomendações aos diferentes grupos (ETSI, ISO, etc.) sobre os requisitos e necessidades dos habitantes e visitantes das smart cities.

É a altura ideal para nos fazermos ouvir e todos podemos contribuir. Ao aceder a standards4citizens.etsi.org, é possível responder a algumas questões que ajudarão a influenciar as nossas cidades a ficarem ainda mais inteligentes. Vamos a isso?

Nota: Este artigo é da autoria de Ricardo Vitorino, Vice-presidente do grupo Cross-cutting Context Information Management do European Telecommunications Standards Institute (ETSI) e Smart Cities and R&I Manager na Ubiwhere, e foi originalmente publicado pela Revista Smart Cities. Conheça a publicação original aqui.

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